PAULO MARÇALO

03-10-2020

Paulo Marçalo, Poeta Marinheiro, nasceu em 1974, na Praia da Cova, Figueira da Foz, mas tendo sido concebido em Lourenço Marques, Moçambique, de onde vem com oito meses de gestação, na bagagem da Mãe que lhe transmuta memórias. Muda-se para Coimbra em 2018, cidade que o acolhe por sobre o Mondego e onde respira a poética de António Nobre que o instiga a aprofundar esta sua Arte de forma apaixonada e atenta, de uma simbólica introspectiva. Escreve desde que se lembra de ter necessidade de dialogar consigo, tão natural como ir em pescarias pelas águas fecundas do mar ou do rio Mondego, partindo do rio Pranto que sente como seu confidente. A sua escrita é o desfragmentar do Ser, emoção e acção, que se reinventa em cada palavra para se erguer na construção silábica, a Sua. Uma procura pela luz, como apaziguadora de uma constante procura de si, pelos outros que passam... para escapar a uma massificação que o sufoca, permitindo-se uma Religiosidade latente e uma Liberdade que assenta na Democracia como premissa de Vida. Após participar em antologias poéticas, editou o 1º livro de poesia, Espírito d'Alma, em 2019, e este ano editará o 2º, O Silêncio Perpetua os Espaços, ambos com a Modocromia Editora. Participou em várias exposições de pintura, fotografia e/ou escultura com textos poéticos e em catálogos.


GAUDENS

O verão está aí...
Eu aqui esperando por ti,
Musa no canto final da primavera,
Ai, quem me dera!...
Minha,
Nossa sede louca d' Imortalidade,
A primeira palavra num lampejo...
Eu te beijo
E, nos damos na manta morta,
De um outono que ainda vem longe...
Tudo é sopro e, brisa...
E, eu prego meu olhar no verbo indefinido,
Incolor da minha ausência,
De olhar vivo no velho poema,
Botão desflorado e, seco do livro,
Do poema da nossa música... música única
Das variantes do fado,
Cambiantes de noites languinhentas do destino,
Feito meu destino de escrever,
Pelos que passam... e passaram,
Cadeira de dor, esta palavra:
- Amor!...
Que versa tanto e, tanto se envergonha,
E, eu coro com meus pensamentos, sem vírgulas,
Não há idade p'ra amar
E, meus pensamentos coram, nas faces desvirginadas,
... Botão desvirginado... desflorado e seco da flor,
A noite ainda não chegou, nem a gardunha...
Marco purpuro,
Botão desflorado, que marca a página do meu diário,
Diário fleuma d'alma,
Meu verdugo no travo anis de meu lábio,
Lábio de flamengo salgado... ponteado nas ganas líricas,
Minha demente e, sadia lubricidade,
Meu orgasmo no jorro níveo,
Dos corpos pornográficos ejaculados no delírio...
Eu sou Freud estoico, na luta vencida,
Que se granjeia no cansaço extinto,
Da estrela de alba, na lua de leite da romã,
Minha revanche de misericórdia bárbara,
Uvas e morangos marginais da hortelã,
De livre viola solta nas castanholas,
Gemendo e ardendo na força bruta da lança,
Onde a dança seduz os querubins,
De rubis carbonizados de afagos estendidos,
Fruto, gloso de meloso e hipnótico sentido,
Esse doido veneno que nutre
E, mata na dor de renascer...
Adónis... outra vez
Al Berto versa e eu canto... o amor carne
E, penso no amor sangue,
De estoico jorro orgânico,
De sebes imortais no marchetar dos lábios,
Explosivos no eterno cavalo de batalha,
Que se apostasia no cansaço dos corpos mortos,
De minha lasciva lucidez cantábrica... sufragando o perpétuo
Perpétua guerra de dois corpos consumindo-se,
Saciando-se do mesmo veneno...
O narcótico da luxúria viva e morta,
O Fogo exposto na candeia do dia,
Rosa... original na sétima costela do pecado.
Talvez um sentido?...
O Sexto, o sétimo sentido da devoção,
Uma folha a pegar fogo, na ponta da caneta...
E, eu troco o passo,
À dança da caneta
Desfolha o Mundo.
E, vê-te a ti:
- Anuncia a tua chegada
No salão nobre do povo.
Meu corpo espera por ti,
Botão desflorado, de faces desvirginadas
E, meus pensamentos coram,
Na lua vermelho sangue, onde meu peito te devora
E, eu troco o passo,
À dança da caneta... devora-me também,
Além de ti não vejo ninguém!....
Meus olhos salgam teu corpo... heterónimo uno em pessoa,
[Bebo água fresca e sorvo ávido um cigarro...
Meu cérbero!...]


Meu botão desflorado, na abrupta caneta... canção lauta
Do poema que fizemos,
Este Falo, esta fala,
Meu cio de prazer, gemido em teus simbióticos tropismos,
É a estátua pagã p'ra me adormecer,
Estátua condoída na viola e na guitarra....
Meus lábios versando os teus, em meus olhos de Jazz.
Sal!... Jarra fustigada em orgasmo
E, murmuram meus dedos, em teu corpo lasso,
Cerejeira d'amor!... nosso abraço,
Depositário do néctar da flor
[Acabo o cigarro e o Mundo volta, na ponta da caneta...
Meu botão em for!...]


- Beijo-te e apalpo-te as nádegas
E, beijo-as langues e rígidas
E, sei que te amo!....
E, volto a possuir-te de novo, no erecto falo de meu sonho.
Na dança contorcida da devoção!....
A verdade onírica e real de meu imortal orgasmo...
Fusão das auras em apocalipse.

PauloMarçalo 2020


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